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MESTRES HOMENAGEADOS

Escurinho do Samba

MESTRE SAMBISTA E SAPATEIRO

 

80 anos, sapateiro, compõe sambas da melhor qualidade com referências e reverências a Jamelão, Cartola, Bezerra da Silva e outros mestres. Trabalha no “camelódromo” e diz que não sabe quantas músicas tem, porque tudo que faz é em forma de música.Mestre Escurinho do Samba costuma receber a todos que passam por sua banca com muita simpatia e sempre com uma música pronta para ser mostrada, cantada e contada a origem.

 

Fala Mestre:

Eu não esperava alcançar o que eu tou vendo aqui. Já me falaram que existia isso aqui. E hoje o negão ta aqui falando. Toda vida fui mole pra roça. Aprendi bater esses preguinho. E esses preguim foi que foi me dando o pão. Aquela coisinha e lá vai. E a gente vai levando. E aprendendo uma coisa. Mas depois eu vi que o forró... que quando batia uma sanfona eu tava no pé.  Ai digo: aqui é que é o negócio viu? Ai eu tomava uns pileque umas coisa, ai aprendi cantar o forró. Entonse eu não sou bem classificado, mas eu dou valor e gosto. E o samba é bom.

 

Isso aqui é bom demais. A gente já tá aqui pode cantar né? Eu fiz assim, a música das “quatro bocas”*, é um xotezinho que eu fiz assim:

 

O meu amigo vive de cabeça quente

Do jeito que ele me fala já tá de cabeça louca

Só em pensar na morena que ele adora

Todo passo que dá fora encontra nas quatro boca.

 

Mas deixa que ele tem uma mania

Dela sair e ele sair atrás

Ele me diz que ela gosta de bicicleta

Ciclista nas quatro boca olha aí já tem demais

 

Olha pra uma boca a mulher ta rodando

Olha pra outra boca não ver a mulher chegar

Olha pra outra boca a mulher ta demorando

Do outro o peão gritando deixa a bicha paquerar

 

Ai que ele esquenta a cabeça

Meu Deus do céu que triste sorte essa minha

Ela diz bem mas tu é muito ciumento

Tu esfria essa cabeça deixa eu dar uma voltinha

 

Eu era da turma de estivador e a gente naquele tempo não brigava não. A gente se encontrava e descia pra beira rio. E a turma gostava de ouvir a música e pedia mais. Aí a cachaça caia onde nós tava. Então eu vou cantar porque a senhora falou no assunto de criar as coisas, e eu fiz essa música, porque isso aqui é um ganha pão e me segura muito.

 

Eu já tenho meu ganha pão para sustentar meus filhim

Um presente que eu ganhei do Dr. Carlos Amorim

Fui falar com o Doutor disseram: é pedir dinheiro

Eu disse é não doutor, lhe digo que sou  sapateiro

Me dê um pé de ferro, uma faca e um martelo

Faz mais de vinte anos que vim guentando o duelo

Meus filhos já tão criado, agora eu vou cuidar de mim

Agradeço a Deus do céu e a Dr. Carlos Amorim

 

Como sapateiro. O povo já conhece lá meu cantinho. A turma chega lá perguntando: onde é o sapateiro, onde é o sapateiro? Ai todo mundo já conhece. Naquele tempo que a gente cantava, a trinta anos atrás a gente brincava demais. Aqui Montes Altos, esses lugar tudo a gente conhece. Quando eu cantava aqui (risos), nós cantava e ganhava muita cachaça, capão assado**. A gente cantava um forrozim, agora vou mexer com mulher quebradeira de coco e a turma gostava.

 

O maranhense que não sabe quebrar coco

Não tem gosto de dizer que é do Maranhão

O maranhense que não sabe quebrar coco

Ele mora na cidade mas não tem satisfação

 

Me criei quebrando coco

E ganhei muito dinheiro, óia

Quebrava coco e vendia,

Na cidade de Pinheiro

Eu tou falando a verdade

E se o espríto não me engana

Vendia pro Zé da Muda

E outra vez pra Dona Ana, óia

 

O maranhense que não sabe quebrar coco

Não tem gosto de dizer que é do Maranhão

(risos)

...

Eu já quebrei coco, mas eu sou meio mole pra quebrar coco, eu não era bom no coco. Lá no meu sertão tem uma baixa que chama balseiro, e lá é cheio de coco. E quando eu vejo tudo acabado eu me lembro de meu tempo. Quando eu escutava a “pacania” da mulheres assim: pac, pac, pac! Eu lá no baixão matando passarinho lá na beira da lagoa, ai eu ia lá e ela me davam coco pra eu comer. O pessoal era gente boa naquele tempo, amigo. Eu saia daqui pra montes Altos quando eu encontrava uma pessoa eu era cristão, hoje quem se esconde é eu. (risos).

 

Eu sou escurinho do samba

Provo com a minha cor

Se você tá duvidando

Mas foi Jesus que me pintou

Se for achou difícil

Foi Deus me fez assim

Só por ser um bom pintor

Pois me pintou de escurim

 

Essa cor não pega

Ela não pega não

Só deixou sem pintar

o solado do pé

E a palma da mão

Se arrependeu depois que me criticou?

É que você entendeu

Que foi Jesus me pintou

 

Mas para quem tem complexo

Vou te dizer como é

Pintou com a mesma tinta

Que pintou o rei Pelé

Mas para quem tem complexo

Vou te dizer como é

Me pintou bem direitim

Faltou a bola no pé

 

 

*Região conhecida por este nome em função do cruzamento entre duas vias principais da cidade.

**Frango castrado para a engorda e abate.

Este projeto foi contemplado com o PRÊMIO BOLSA FUNARTE DE FOMENTO AOS ARTISTAS E PRODUTORES NEGROS/2014

 

 

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