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MESTRES HOMENAGEADOS

Dona Duzinha

MESTRA FALADORA DE POESIA

 

Nasceu em Campos Sales - Ceará em 1931. Veio para o Maranhão morar em Jatobá que na época era interior de Colinas, hoje mora na cidade de Açailândia. Quando criança trabalhava e comprava seu próprio material de escola, começou a estudar muito cedo e dedicava-se muito as leituras. Suas leituras preferidas eram pelos romances de literatura de cordel, chegou a decorar 30 romances e quando se juntava para fiar algodão à noite recitava seus romances preferidos. Eram muitas histórias adivinhações, cantorias, poema e claro muita literatura de cordel. Nas rodas que faziam nas noites D. Duzinha contava seus versos alegres e apaixonados e todos viajavam por aquelas contações que só ela com sua voz doce e forte consegue fazer.

 

Fala Mestre:

 

Romance do Raizeiro do Ceará

 

Zangada diz a mulher

Você só anda apertado

Porque sempre as suas roça

É um pequeno cercado

Quando chega mês de agosto

Já tudo tem se acabado

 

Se você botasse seus roçado grande

com seu Fernando talvez que chegasse

ou talvez que sobrasse da nossa despesa

que a sua moleza na boa lavoura

é culpada de tanta pobreza

 

A precisão nossa pode até se afastar

se você botar uma grande roça

lá na mata grossa perto da chapada

não faltará nada teremos fartura

que a agricultura é abençoada

 

Mulher sem precisar disso

Melhor futuro estou vendo

Vou preparar uns remédio

Sair no mundo vendendo

Que hoje de raiz de pau

Muita gente ta vivendo

 

Com estes tais planos Você não se iluda

Que o doutor estuda dez ou quinze anos

E entre os enganos às vezes se vê

Como é que você a tanto se atreve

Que de nada escreve, não conta e nem ler

 

Depois que a mulher se cala

E o barulho tem cessado

O malando sai de casa

Com um saco e um machado

De toda arvore que encontra

De casca trás um bocado

 

Trás o mulungu e a carnaúba

E a tatajuba, mandacaru, raiz de tiú

Rama de melão, malva e curdião

Cedro e laranjinha e a tal cabacinha

Rubia e jibão

 

Bota tudo quanto encontra

Não encontra nem cipó

Trás casca da imburana

E raiz de pau mocó

Folha de jurema preta

E embira de mororó

 

Trás a catingueira com a quebra faca

E Arapiraca, a burra leiteira

Casca de aroeira, mufumba e buji

E raiz de favela, pega uma panela

E bota tudo ali

Depois que a panela freve

Com aquela misturada

Ele enche daquilo tudo

Dois costais de garrafada

Bota a carga no jegue

E viaja de madrugada

 

E sai o gatuno no mundo dizendo

Eu ando vendendo remédio barato

Sou doutor exato, tenho boa ideia

Trato diarréia e também trato idoso

tuberculoso, bronquite e “moféia”

 

Curo congestão e reumatismo

“Conspiração”, mal no coração,

tontiça e coceira, febre e batedeira

e dor de barriga, curuba e bixiga

sarampo e papeira

 

 Ai entrega a garrafa ao tolo pobre pateta

Lhe dizendo pode crer que a cura vai ser completa

Pois é um remédio simples que não precisa dieta

Toma um tigela bem cedo e não tenha medo

Que não tem cautela, no começo dela

terá por sinal suor geral com grande murrinha

mas é a mesminha bulindo com o mal

 

Aquele tolo pateta corre animado e ligeiro

vai na casa do vizinho e toma emprestado o dinheiro

acreditando na trama do mentiroso estradeiro

 

E com muita fé usa o tal remédio

pelo “intelmédio”

Daquele “pajelda”, mas a beberagem

do sujeito imundo

Para o outro mundo dá-lhe uma passagem

 

Pra me livrar da tal classe

Sempre eu recorro a Jesus

Fugi do doutor raiz

Como o cão foge da cruz

O gato foge do cão

E as trevas fogem da luz

 

Nem mesmo brincando eu não dou atenção

A tal “classação” que anda enganando

Ainda eu me achando com a boca torta

E uma banda morta se um raizeiro

Chegar no terreiro eu bato a porta

Peço aos camarada pra se prevenir

E nunca cair e tais “camisada”

Que nas garrafada eu não acredito

Quem ler o meu dito na mente conserva

Que não é verdade o que está escrito

Peço desculpa aos ouvintes

Minha história terminou

Contei tudo direitinho

Como o folheto ensinou

As falta que acharem nele

Botem para quem contou(e obrigado)

 

Adeus as sombras das flores

Adeus meu jardim florido

Adeus encanto de amores

Adeus te digo em sentido

Adeus saudade da vida

Adeus amor encantado

Adeus meu anjo adorado

Adeus prenda tão querida

 

Bem sabe minha beleza

Que eu nasci por te amar

Agora eu vou te contar

Que te amo com certeza

Em paga dessa firmeza

Declaro eu em paixão

Tão lindo como uma flor

Morena por teu amor

Joia do meu coração

 

Teus olhos é dois diamantes

Como estrela matutina

Entre todas as meninas

Donzela tu sois mais galante

Se o amor for consoante

Prevenirei no futuro

Peço bem não censuro

Desse amor que me convém

Se tu me amas também

Quero ver se estás seguro

 

Te amo e te quero bem

Não é de longe é de perto

Ainda que meus pais não queiram

Mas nós dois querendo dá certo

Te amo e te quero bem

Num altura tão subida

Por ti morro e dou a vida

Por não ter vela a ninguém

Recados que vai e vem

Cartas que só nós dois sabe

Deus o livre que se acabe

Esse nosso amor antigo

Te amo mais ninguém sabe

Te quero bem mais não digo

Este projeto foi contemplado com o PRÊMIO BOLSA FUNARTE DE FOMENTO AOS ARTISTAS E PRODUTORES NEGROS/2014

 

 

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